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DO HOMEM E DA BESTA

Palomas
Lhes deixo um artigo significativo, sou adversária da caça de animais, do prejuízo que causamos sobre eles. Vocês podem expor concepções.
A DELGADA LINHA QUE SEPARA A DOIS REINOS
Por Marcos Aguinis para LA NACION
http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1101388
Imagem: LA NACION



Toda nova publicação de George Steiner é um acontecimento. Faz pouco, teve a coragem de reunir os materiais que não pôde levar a uma culminação e, com a humildade dos grandes, lançou um volume: Os livros que nunca escrevi.

Steiner se converteu num referente obrigado da literatura e a erudição contemporâneas, no nível de Harold Bloom e Umberto Eco. É fluido em quatro idiomas, sincero em suas cavilações, sempre disposto a escutar e corrigir. Volta a presentear-nos com esta obra reflexiones do mais elevado humanismo. Todos os tópicos que aborda são interessantes por si mesmos e pela altura intelectual à que os eleva.

Um dos temas que pareciam menos interessantes acabou por atrapar-me. Refere-se ao vínculo do homem com os animais. O Homo sapiens é recente e, na vasta história do universo, equivale a um abrir e fechar de olhos. Não obstante, converteu-se num rei que durante demasiado tempo não teve consciência do desprezo que projeta sobre os demais seres vivos. Para cúmulo, um desprezo que inclui também aos outros homens.

Com atraente prosa, Steiner nos introduz no mundo do homínido pré-histórico, que, sob uma incerta luz, chegaram a considerar-se diferentes dos animais. Foi uma revolução mais fragorosa do que qualquer das que tiveram lugar nas etapas posteriores. Um Big Bang que rasgou o magma nocturnal em que esses seres tinham estado submersos.

Quiçá precisaram milhões de anos para aceder a essa situação "soberana e catastrófica" de considerar-se animais diferentes dos demais. No meio da fauna que povoava a Terra, desprovido de poderosos instrumentos corporais para defender-se, o homem pôde sobreviver a duras penas e, pouco a pouco, tornou-se ereto e adquiriu a visão estereoscópica. O polegar se tornou oponible e conseguiu agarrar melhor as primeiras armas, fabricar instrumentos e vencer a outros animais para devorá-los. Evoluíram sua laringe e a eletroquímica das sinapsis cerebrais. Descobriu como conservar o fogo e, mais adiante, como produzí-lo.

Então as mulheres e os homens ingressaram na etapa da previsão, o armazenamento e, por fim, o cultivo. Não puderam ser superiores neste aspecto às formigas nem às abelhas mas -o assinalam mitos, teodiceas e antigas sabedorias- fluctuó milênios entre ser um deus ou uma besta.

A linguagem foi a segunda decisiva revolução, ainda que os gritos de pânico ou de batalha nunca precisaram da sintaxe. Os animais praticam uma linguagem ao que tiveram acesso, segundo lendas, o rei Salomón e san Francisco de Assis. Mas não corresponde à linguagem enjoyado de atributos que desenvolveu o ser humano.

Como se comunicam as formigas? Que diz o baile das abelhas? De que modo se informam as aves sobre a direção de seu vôo? Como lêem os cuadrúpedos a avalanche de signos de que lhes provê o olfato?

Por outra parte, Voltaire se arriscou ao afirmar que o ser humano é o único animal que sabe que vai morrer. Não é verdadeiro. Os elefantes envelhecidos se retiram a um isolamento sepulcral. Os cachorros modulam sua conduta ante a proximidade da morte própria ou de seres amados.

Quiçá o deceso vinga acompanhado por um cheiro que o atrofiado olfato dos homens não percebe. Steiner aponta que ao redor das moradas dos sentenciados as corujas uivam, os corvos croan e os lobos aúllan. Os cavalos de Aquiles se inquietaram ante seu escuro destino e o pelambre dos gatos se arrepiou. Os animais também antecipam o perigo imediato: "cheiram" terremotos, tremem ante um trovão antes de que o ouça o homem. "Cavam valas, armazenam comida, alçam vôo, mas sua gramática parece ficar confinada ao passado e o presente."

O ser humano conseguiu superá-los, ao avançar sobre objetivos sociais e pensar no futuro. "É o que nos singulariza antológicamente." Mas os limites destes aspectos seguem sendo incertos.

Os mitos e as religiões não teriam podido crescer se não tivesse permanecido esfumado o tabique entre a besta e o homem. Teve quem foram amamentados por uma loba, como Rómulo e Remo, alimentados por pássaros, como o profeta Elías, ou levados a lugar seguro por golfinhos alertas. Nas cavernas paleolíticas foram desenhados os animais com os que se tinha uma forte interação. As pinturas rupestres não são só arte, senão também depoimento da mentalidade e instintos que predominavam então.

Os antigos cultos estavam povoados de animais. Os tótemes testemunham essa veneração zoológica. Quase todo o panteão egípcio tem cabeças de animais. O urso, o águia, o leão e a serpente são custodios simbólicos, ao longo de milênios. E o poder dos animais persiste até nossa época na heráldica de dinastias e até de nações. Para demonstrá-lo, bastaria com prestar atendimento a quantos países luzem águias, unicéfalas ou bicéfalas, em seus escudos. As figuras híbridas, ademais, constituem legião nas lendas, contos e fantasias de todo o universo. No popular Zodíaco, as estrelas desenham corpos de animais. O kitsch do absurdo horóscopo associa nosso caráter e destino com um animal.

A relação erótica entre o homem e a besta é inegável e foi objeto de condenação por sua prática estendida e sua tentação urticante, não porque fosse uma exceção. Alguns vínculos conseguiram uma pátina de ouro na melhor literatura. Pasifae e seu touro, os deuses do Olimpo transformados em animais para copular com mulheres formosas, o Sonho de uma noite de verão, A bela e a besta. Montherlant e D. H. Lawrence se atreveram a enfrentar o tabu, como também uma escritora canadense prematuramente falecida, à que elogia Steiner por descrever numa magistral novela curta a verossímil e profunda relação entre uma mulher solitária e um urso sensível. Também subyace o anseio sexual em King Kong e na picaresca do asno de ouro, de Apuleyo. Num popular relato húngaro, ao que pôs música Bela Bartok, o bramido que lança um veado dos bosques quando está em zelo atrai às mulheres."Quem mantêm relações sexuais com um animal -conclui Steiner- se acoplam a seu próprio passado biológico e psicosomático; reintegram-se a uma realidade perdida, aterrorizadora e bucólica, na que os homínido ainda não se tinham separado do impreciso ordem natural." O amor entre os humanos e os animais pode também sublimarse -é o frequente- e ambas partes são capazes dos maiores sacrifícios por defender à outra.

Uma evidência triste se refere a que os animais selvagens ou domesticados se converteram em vítimas do homem. Não só para fazê-los trabalhar e produzir, senão também para comê-los, usar suas peles e caninos, pôr suas cabeças como ornamentos e praticar o esporte obsceno da caça. A lista de atos sádicos repugna. "Os mares se tingem de vermelho durante a pesca do atum; abate-se a tiros por mera diversão a pássaros cantores; espécies em perigo de extinção padecem o acosso de ricos e furtivos caçadores."

Para fazer cúmplices aos deuses, o sacrifício de animais foi considerado fundamental nos templos antigos. É digno de condenação que o astuto Ulises tenha procedido a degolar uma formosa novilla para que seu sangue fora um chamariz que distraísse o espírito sedento dos mortos. Revela a distorção mental que obnubila ao homem. Pitágoras, afeto à metempsicosis, sustentava que o alma luta por liberar-se de sua horrível e transitória envoltura animal para recobrar sua nobre casta humano. Em contraste, cabe assinalar que o budismo, o jainismo e as crenças animistas pregam a veneração a toda forma de vida, sem exceção alguma. Em paralelo, vastas regiões de Ásia submetem aos animais a uma crueldade indescritível. Não há culpa entre os depredadores por danar animais, porque se impôs o critério de que só existem para servir ao homem. Mas essa servidão se contaminou de desnecessária brutalidade. A Bíblia enfatiza os direitos dos animais, que incluem o descanso e uma morte sem dor. Isto também aparece em moralistas romanos e é motivo de reflexão entre os pais da Igreja. A iconografia do cordeiro e o asno anteciparam a ternura franciscana.

Os direitos dos animais chegaram, estendem-se e ojala se consolidem. Mas sem a histeria dos extremistas. Steiner martela que "estamos começando a sentir-nos sós nesta povoada Terra", que foi objeto de uma depredação monstruosa. Milhares de espécies animais foram exterminadas. Ríos, estanques e mares foram submetidos a envelope pesca. A fome enlouquece e dizima a espécies como o tigre, a onça ou o urso polar. Ironicamente, alguns balleneros matam a suas presas para alimentar a mascotes caseiras e os caçadores liquidam rinocerontes para que seus cornos forneçam afrodisíacos a clientes imbecis. A crítica se estende agora também aos experimentos científicos, com uma interrogação sobre suas fronteiras razoáveis. Alça-se o pano de um drama que o homem deve reformular-se a fundo. Sua relação com a besta não deve ser bestial. George Steiner, com anotações que não chegaram a formar livros, acendeu um farol poderoso e inteligente.

3 CA CHORROS:

Ana Martins

Tem razão minha querida amiga,
é uma autêntica barbaridade o que fazem com os animais para lhe ficar com a pele!

Tenho andado um pouco ausente, estou com gripe.

Beijinhos,
Ana Martins

Unknown

Anita cedo chegará a primavera, oxalá te recuperes cedo da gripe que deixa de cama, com muitas dores...abraços carregados de beijinhos!!!

Anónimo

Pues quanto mas conozco a los humanos ,más perro me sinto!Auf,Auf,grrrr!!!

:)) w-) :-j :D ;) :p :_( :) :( :X =(( :-o :-/ :-* :| :-T :] x( o% b-( :-L @X =)) :-? :-h I-)

Gracias por comentar

 
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