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A ESCOLA COMO CONFESSIONÁRIO

Palomas

Como saber que dizer e daí calar na primeira entrevista que os pais têm na escola onde assistirão seus filhos. As vezes dizer muito sobre a intimidade familiar dá lugar ao estigma dos jovens e também às falsas expectativas por parte dos pais. Não falar nem a mais nem de menos evita o grande mal-entendido que sempre terminam pagando os estudantes.
♣ Por Silvia Iturriaga
Imágen e texto PÁGINA12

Em minha prática cotidiana assessorando famílias que procuram escola para seu filho me encontro muitas vezes ante pais que, ao relatar sua história familiar em relação a esse filho, mostram-se profundamente comovidos. Separações, abortos, doenças, fracassos escolares, diagnósticos médicos ou psiquiátricos, mortes, são temas que freqüentemente aparecem em minha consulta, e fazem que me pergunte a respeito de quanto de tudo isto deve um papai relatar na entrevista de admissão com uma escola, por um lado, e de quanta desta informação é realmente imprescindível para a instituição... E daí conseqüências lhe traz escutar mais do que precisa.

Palco um: um papai e uma mamãe, pode que sejam um casal ou que o tenham sido, estão sentados frente a uma pessoa que os entrevista como parte inicial de um processo de admissão de seu filho à escola. Ante algumas perguntas da entrevistadora, os pais começam a relatar episódios significativos da vida de seu filho em particular, e da família em general despregando uma história de padecimentos subjetivos, que envolve temas tais como infidelidades conjugais, doenças antigas, crises econômicas, etcétera.

A entrevista termina, os pais abandonam a escola sumamente mobilizados pelo encontro, e a entrevistadora... também.

Palco dois: um grupo de pais está reunido frente à diretora de uma escola. Cerca do estabelecimento, ocorreram alguns fatos de violência, e os pais a increpam perguntando-lhe que pensa fazer a escola ante essa situação. Quando a diretora me relata a cena, pergunta-me: “Por que supõem que frente a qualquer situação sempre a escola deve e pode fazer algo?”

Justaponho estas duas cenas, porque creio que estão relacionadas a certo mal-estar que se sofre hoje nas instituições educativas, mal-estar que sofre a instituição e mal-estar que sofrem os pais. Em cada uma destas cenas, os atores, pais por um lado, representante da escola por outro, localizam-se em lugares que são os que depois geram mal-estar.

A escola, por seu lado, se arroga o direito de saber, avançando muitas vezes por envelope a privacidade da família. Mas ao fazê-lo, não se está localizando justamente nesse lugar que depois sofre, o de Instituição Omnisapiente e Todopoderosa à que tudo lhe pode ser demandado?

É óbvio que uma escola precise saber que família está ingressando em sua comunidade, e para isso há diferentes estratégias que diferentes escolas põem em jogo: solicitar que seja apresentada por alguma outra que já pertença a essa comunidade educativa, comunicar-se com a escola anterior em caso que se trate de uma mudança de colégio, pedir um livre dívida, fazer que os pais completem planillas de dados, coisa que inclusive se faz as vezes como condição prévia a outorgar a entrevista, e, ultimamente, se lhes pede também uma foto familiar.

Não provoca nenhum problema para a família apresentar esta informação, além de do que em alguns casos, juntar a segundos marido ou esposas, médios irmãos ou irmãos dos novos casais frente à câmara possa resultar um tanto embaraçoso, mas... Que Julieta nasceu depois de que sua mãe sofresse um aborto espontâneo, que a separação dos pais de Rocío se deveu a que seu papai se foi com a melhor amiga da mamãe ou do que Lucas, hoje entrando à secundária, foi operado aos dois meses de vida... estamos seguros de que são informações que ajudarão a seus docentes a relacionar-se melhor com eles?
Não se correrá o risco, pelo contrário, ao fazer explícitas estas circunstâncias, de estigmatizar a um garoto? Ou de convertê-las em causas universais de qualquer conduta, pondo obstáculos assim todo processo de entendimento?

Por outro lado, onde e frente a quem crêem estar os pais quando numa entrevista de admissão relatam estas intimidades familiares? Parecesse que, as vezes, as diferenças entre um confessionário, um consultório psicoanalítico e a direção de uma escola se apagam. O problema é que depois à escola se lhe demanda o que deveria oferecer o confessionário ou o consultório.

Palco 3: A diretora de um colégio secundário, relatando uma situação escolar, na que uma aluna sofreu um surto psicótico no meio de uma classe, comenta-me: “Os pais ocultam informação”.

No contexto desta cena, entendo que a diretora se queixava pensando que se eles tivessem sabido que esta aluna tinha um historial psiquiátrico, poderiam ter estado melhor preparados para enfrentar-se à situação.

Pode ser. Ou pode ser também que não a tivessem admitido. Algumas patologias são pouco adequadas para a convivência escolar e as escolas, ainda que as vezes se esquece, são instituições educativas, não terapêuticas nem assistenciais...

Que tem que perguntar, então, uma escola? Quanto de sua história, deve relatar uma família? Pessoalmente creio que muitos colégios deveriam repensar seu processo de admissão, tomar consciência de em que lugar ficam localizados quando avançam por envelope a privacidade da família e, dentro do marco do pedagógico, concentrar-se naqueles dados que possam efetivamente instrumentar-se para facilitar a relação com o aluno.

♣ Assessora de pais e mães na busca de escola

2 CA CHORROS:

Anónimo

Siempre es un placer leer cosas tan interesantes. Me gusta tu blog.

Unknown

muchas gracias Aungus, me alegra te haya gustado saludos!!!

:)) w-) :-j :D ;) :p :_( :) :( :X =(( :-o :-/ :-* :| :-T :] x( o% b-( :-L @X =)) :-? :-h I-)

Gracias por comentar

 
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