
Isondú foi o homem mais formoso entre todos os guaraníes. O mais alto, o mais forte, o mais hábilTinha que o ver disparando uma flecha, remando na canoa, dançando nas cerimônias dos ♠ payés.
Quando era garoto, não tinha mãe em sua ♠ tevy que ao vê-lo rir-se, não lhe fizesse uma carícia, quando lhe chegou a hora do ♠ tembetá já tinha muitas indiecitas que queriam casar-se com ele.
A todas lhes agradavam suas mãos destras, sua mirada penetrante e seu perfume a madeira.
Junto com o amor que acordou em tantas moças, acordou-se também a inveja dos homens. Os que tinham jogado com ele sobre as folhas de palmeira e mais tarde nos claros ou no rio agora lhe tinham raiva.
Por isso prepararam a emboscada.
A Isondú o esperaram um entardecer.
Cedo tinham cavado o poço no caminho e o tinham dissimulado bem: já se sabe que os guaraníes eram especialistas em caçar com armadilhas e esta já estava lista.
Depois se sentaram a esperar e a tomar-se a chicha de milho que tinham levado.
Isondú voltava da aldeia vizinha, onde tinha parentes. Vinha só, pensando numa garota que tinha conhecido ali, a única moça que estava seguro de poder querer.
Sem dúvida cedo se casaria com ela, já se a imaginava junto a ele, com o corpo enfeitado com pinturas e uma flor - a orquídea mais formosa do que ele pudesse encontrar - em seu longo cabelo negro.
Contente e cansado ia pelos caminhos da selva, espantando-se os mosquitos de tanto em tanto. A ele, tão grande e forte, se o via pequeno ao lado das árvores imensas.
Quando faltava pouco para chegar a sua aldeia, começou a escutar os risos e os gritos de seus inimigos. Mas não se inquietou, porque era jovem, não lhe tinha medo a nada e tinha sido sempre demasiado ditoso como para supor que se acercava a desgraça.
Quando escutaram seus passos, os outros ficaram calados.
De repente, Isondú tropeçou entre umas lianas e caiu no poço.
Os outros saíram em seguida de seus esconderijos e começaram a rir-se e a burlar-se dele:
- ¡Isondú! ¡Isondú! ¡Te caçamos como a um tapir!-
A ver, de que te serve agora ser tão valente?
- ¡Isondú! ¡Aí vai um anzol para que mordas! Ou queres que chamemos a teu mamita para que te salve?
E enquanto lhe atiravam palitos, frutos e umas bolitas de argila dura com as que caçavam ratos e os pássaros.
Isondú lhes gritava:
- Mas, que fazem? que lhes passa? que lhes fiz eu, covardes?
- E desde abaixo lhes devolvia os projéteis.
Um dos agressores lhe contestou:
- Já vais ver se somos covardes.
– E agarrou sua maça e lhe colou a Isondú num ombro, na cabeça, nas costas...
Os demais se entusiasmaram e entre insultos fizeram o próprio: o corpo de Isondú se foi enchendo de cardeais e de sangue, ali ficou, aplacado, caído sobre um custado no fundo do poço.
Na selva era quase de noite. Os assassinos seguiam no borde da armadilha, paralisados pelo medo.
De repente viram confusamente que Isondú se movia, que seu corpo tomava da pouco a forma de um inseto e que no lugar de cada ferida se acendia uma lucecita.
Isondú agitou suas asas e saiu voando: já estava livre.
Um momento depois centenas de Isondúes se dispersavam na selva, embaixo do teto que formam ali as árvores, os helechos e as lianas, alumiando intermitentemente a noite guaraní.
Muitos destes insetos traspusieron os rios, deixaram atrás a selva e se perderam no campo.
Em Argentina, alguns lhe seguem dizendo "isondúes", outros os chamam "bichos de luz, outros "tuquitos" e outros vagalumes. Nas noites mais escuras voam a nosso arredor, quando cremos que se foram, acendem-se outra vez uns metros além, como estrelas terrenais.
♠ Payés: médico feiticeiro
♠ Tevy: família extensa dos guaraníes que configurava uma unidade social e ocupava uma única grande moradia
♠ Tembetá: amuleto guaraní que levavam os homens adultos. Consistia num palito em forma de T que atravessava o mentón
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