HÁ UM MENINO NA RUA

Depois de ler → Uma Noite num Lugar recordei um poema de → Armando Tejada Gómez...
"Há um menino na rua"
O poema pertence ao livro "Antologia de Juan"
Imagenes: Google

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A esta hora, exatamente,
há um menino na rua.

Lhe digo amor, digo-me, recordação que eu estava
comas primeiras luzes de meu sangue, vendendo
um escura vergonha, a história, o tempo,
diários,
porque é quando recordação também as presidências,
urgentes advogados, conservadores, asco,
quando subo à vida juntando a inocência,
minha meninice triturada por escassos centavos,
pela quantidade mínima de pagar a estadía
como um vagão de ônuse
saber que a esta hora minha mãe está esperando,
quero dizer, a mãe do menino inumerável
que sai e nos pergunta com seu rosto de mãe:
que fizeram da vida,
onde porei o sangue,
que farei com minha semente se há um menino na rua.

É honra dos homens proteger o que cresce,
cuidar que não tenha infância dispersa pelas ruas,
evitar que naufrague seu coração de barco,
sua incrível aventura de pão e chocolate,
transitar seus países de bandidos e tesouros
pondo-lhe uma estrela no lugar da fome,
de outro modo é inútil ensaiar na terra
a alegria e o canto,
de outro modo é absurdo
porque de nada vale se há um menino na rua.

Onde andarão os meninos que vinham comigo
ganhando-se a vida pelos quatro custados,
porque neste caminho do hostil ferozmente

caiu o Toto de frente com seu pouquinho sangue,
com suas roupas de fé, sua dor a pedaços.
e agora preciso saber quais sorriem
minha canção precisa saber se se salvaram,
porque senão é inútil minha juventude de música
e tem de doer-me muito a primavera este ano.

Importam duas maneiras de conceber o mundo,
Uma, salvar-se só,arrojar cegamente os demais da balsa
e a outra,um destino de salvar-se com todos,
comprometer a vida até o último náufrago,
não dormir esta noite se há um menino na rua.

Exatamente agora, se chove nas cidades,
se desce o nevoeiro como um sapo do are
o vento não é nenhuma canção nas janelas,
não deve andar o mundo com o amor descalço
enarbolando um diário como um asa na mão,
trepando-se aos trens, trocando-nos o riso,
golpeando-nos o peito com um asa cansada,
não deve andar a vida, recém nascida, a preço,
a meninice, arriscada a um estreito ganho,
porque então as mãos são dois fardos inúteise
o coração, mal uma má palavra.

Quando um anda nos povos do país
ou vai em trens por sua geografia de silêncio,
a pátria
sai a olhar ao homem com os meninos nuse
a perguntar que data corresponde a sua fome
que história lhes concerne, que lugar no mapa,
porque um Norte adentro e Sur adentro encontra

as costas escandalosas das grandes cidades
nutrindo-se de trigo, videiras, cañaverales
onde o açúcar sobe como um junco no ar,
um encontra a gente, os salários escassos,
uma surda tarefa de mães com horários
e pais silenciosos moidos na fábricas,
há dias que uno andando de madrugada encontra
a intempérie dormida com um menino nos braços.

E um recorda nomes, episódios, senhores
que em Paris beberampela antiga beleza de Deus, sobre a balsa
em onde surpreenderam a solidão de frente
e a índole triste do homem solitário,
em tanto, suas senhoras, têm angústia e mudam
de amantes esta noite, de médico esta tarde,
porque o tédio que levam já não cabe no mundo
e eles são os acionistas dos meninos descalços.

Eles esqueceram
que há um menino na rua,
que há milhões de meninos
que vivem na rua
e multidão de meninos
que crescem na rua.

A esta hora, exatamente,
há um menino crescendo.

Eu o vejo apertando seu coração pequeno
olhando-nos a todos com seus olhos de fábula,
vem, sobe para o homem acumulando coisas,
um relâmpago trunco lhe cruza a mirada,
porque ninguém protege essa vida que cresce
e o amor se perdeu
como um menino na rua...

Andando sem bússola, com as bolsitas de poxiran, tratando de fazer amig@s onde sentir-se acolhidos, assim se encontram os meninos nas ruas.
Transeuntes que os evadem, outros que os observam com asco, como se fossem vindos de outro planeta.

Não são os "Meninos da Rua", senão "Meninos nas Ruas"