-->

QUANDO A VÍTIMA É OUTRA PESSOA

Palomas
De Ana Martos, psicóloga, autora do livro ""¡Não posso mais! As mil caras do maltrato psicológico"

Detectar a violência psicológica que sofre outra pessoa é mais fácil geralmente que a detectar quando tu és a vítima, porque desde fora, as coisas se vêem com muita mais clareza. Mas, muitas vezes, a violência psicológica é transparente e somente a sente a vítima sem que a situação transcenda.
Esse é muitas vezes o caso dos meninos ou dos anciãos. Das pessoas mais débeis que sofrem violência psicológica por parte de alguém de quem dependem e a quem não se atrevem a delatar por temor a piorar a situação.

Esse é muitas vezes o caso de pessoas que aprenderam a não se defender e a aceitar a situação como algo não somente normal, senão desejável. A vítima aprende a não se defender quando sabe positivamente que não tem defesa.

Que, faça o que faça, vai receber um castigo. E que, faça o que faça, ninguém vai defender. Assim, a pessoa maltratada desenvolve uma sensação de contínuo fracasso e, sobretudo, de impotência, que a leva a uma atitude de passividade, a deixar de reagir ou controlar o que sucede. E assim aprende a não fazer nada frente ao que ocorre.

Desde fora, parece uma postura de indolência, de passividade ou de indiferença. Uma espécie de apatia ou de submetimento. Mas há uma deterioração íntima e secreta que vai erosionando sua personalidade.

Outra causa da indefensão aprendida é a esperança mágica de que as coisas vão solucionar por si mesmas, de que algo vai suceder para que o agressor deixe de agredir. É um mecanismo da vítima da violência, física ou psicológica, que a exime da responsabilidade de procurar uma solução para algo que aparentemente não a tem.

Uma vez convencida de que seu caso não tem solução, a pessoa vítima do maltrato, do acosso ou da manipulação psicológica desenvolve mecanismos de defesa para adaptar-se à situação. Entre eles está a síndrome de renúncia do prisioneiro, em que a vítima renuncia a seus próprios pensamentos, idéias e desejos, para submeter-se absolutamente às exigências de seu agressor. É uma espécie de autômata que somente vive para preguear-se aos desejos de seu captor.

Tudo isso é um método, inconsciente e mecânico, de sobrevivência, como o é a síndrome de Estocolmo, que se apresenta quando a vítima percebe uma ameaça para sua sobrevivência física ou psicológica, está convicta de que o agressor vai cumprir essa ameaça e se sente incapaz de escapar, mas percebe um vislumbre de amabilidade por parte de seu agressor e isso a faz volcar-se para ele como para sua única fonte de sobrevivência.

Podemos detectar a violência psicológica nestes casos, porque existem vários indicadores.
A vítima se comporta da forma seguinte:
Mantém uma relação com seu agressor, ao que agradece• intensamente suas pequenas amabilidades.
Nega que tenha violência contra• ela e, se a admite, øjustifica-a.
Nega que senta ira ou mal-estar• para o agressor.
Está sempre disposta para ter contente ao• agressor, tentando averiguar o que pensa e deseja. Assim chega a identificar-se com ele.
Crê que as pessoas que desejam ajudá-la estão equivocadas e• que seu agressor tem a razão. Sente que o agressor a• protege.
Lhe resulta difícil abandonar ao agressor ainda depois de ter• o caminho livre.
Tem medo a que o agressor regresse por ela ainda que• esteja morto ou no cárcere.
Outro mecanismo de defesa que a vítima pode desenvolver para sobreviver é o que se chama identificação com o agressor.
Este mecanismo se produz em três etapas:
Submetimento• mental ao agressor. Esse submetimento permite à vítima averiguar o que seu agressor está pensando em cada momento.
Adivinhar os desejos do agressor.• Isto permite à vítima antecipar-se ao que seu agressor vai fazer para tratar de pôr-se a salvo.
Atuar para salvar-se. Pôr-se a salvo significa• comprazer ao agressor, não aumentar sua ira, senão tratar de aplacá-la com essa submissão que reduz à vítima a nada para convertê-la em parte do agressor.

Mas a identificação com o agressor vai além de tirar-se de em meio, porque o que trata a vítima é de seduzir a seu agressor para desarmar-lhe. O menino maltratado desenvolve uma sensibilidade e uma inteligência especiais que lhe permitam avaliar seu meio e sobreviver. Trata de conhecer ao agressor "desde dentro", para apaziguar-lhe e desarmar-lhe.

É possível, inclusive, que a vítima chegue a sentir o que o agressor quer que senta ou que chegue a sentir o que sente o mesmo agressor e isso inclui fazer-se tão sensível às emoções do verdugo que chegue a sentí-los como próprios. Este processo chega a converter o medo em adoração. É o mecanismo próprio de ideologias como o movimento nazista.

Finalmente, há que ter em conta um mecanismo neurológico que todos temos e que se chama habituación. A habituación consiste em que o sistema nervoso deixa de responder a um estímulo quando este se produz continuamente. Quando vemos pela primeira vez uma cena de guerra na televisão, produz-nos mal-estar e angústia.
Mas quando a mesma cena ou cenas similares se repetem uma e outra vez, deixa de produzir-nos mal-estar porque nosso mecanismo de habituación funciona e nosso cérebro deixa de responder.
Este mecanismo desempenha um papel muito importante na violência psicológica, porque a vítima chega a aceitar sua situação como algo totalmente normal e a incorpora a sua vida como uma faceta mais. O menino que cresce num meio de maus tratos, palabrotas e violência, øaceita-os como outros aceitam um meio no que os domingos se come paelha no campo ou se visita aos avôs. É um hábito.
As situações familiares, sociais, trabalhistas, em que se produz a agressão insuspeita passam de longo para os observadores, porque são tão subtis ou tão habituais que não chamam o atendimento. Quanto à pessoa que as sofre, nem sequer chega a considerar-se uma vítima, senão que se acostuma a essa situação como a algo normal. Tal sucede, por exemplo, com as donas de casa que trabalham, ademais, fora. Toda a família entende que a mãe é responsável da roupa dos demais, da limpeza da casa, da compra, da comida e de mil detalhes. E o tomam como algo natural, começando pela própria dona de casa, que sacrifica todos os momentos de sua vida para satisfazer as demandas e exigências de sua família. Os demais se arrogan o direito a increpá-la, a exigir-lhe e a vê-la afanar-se sem descanso dentro e fora do lar. É uma situação clara de violência psicológica de gênero da que quase ninguém toma consciência.

2 CA CHORROS:

Odele Souza

O fato de quase ninguém tomar conhecimento dessas violências psicológicas, faz com que elas infelizmente aumentem. É preciso romper a barreira do silêncio e incentivar as vítimas a contar o que lhes passa. É preciso denunciar e GRITAR o mais alto que se possa contra os mal tratos psicológicos. Um crime que deve ser severamente punido.

Unknown

amiga Odele!!!...é muito complexo denunciar a violência psicológica, claro que não tens feridas no corpo, ten-las em tua cabeça, coração...creio que deve ser uma das tem ter em conta por estes tempos...beijinhos tesouro!!!

:)) w-) :-j :D ;) :p :_( :) :( :X =(( :-o :-/ :-* :| :-T :] x( o% b-( :-L @X =)) :-? :-h I-)

Gracias por comentar

 
Ir Arriba