CARTA DE PAPAI NOEL

Por Alina Diaconú Para LA NACION

Queridos papais e mamães: vai-lhes a surpreender esta carta, porque o que sempre recebe mensagens dos meninos do mundo sou eu. Mas este ano sento vontades de empunhar minha velha lapicera fonte, tão gastada e, desde minha querida e longínqua Laponia, enquanto minhas renas estão descansando e o trenó se vai cobrindo de neve, dizer-lhes algumas coisas que fluem de meu velho coração. Como vocês saberão -ainda que não tenham pensando nunca em isso-, eu nasci velho. E essa paixão que sento pelos meninos é porque nunca tive infância. Quanto a meu aspecto, sempre me apresentei com minha melena e minha barba brancas, sempre me vesti de uma só maneira, usando o mesmo traje vermelho, as mesmas botas, o mesmo cinto. Não soube de modas nem de tendências nem de dietas para emagrecer. Ao nascer velho, o Criador me colmou de algo que só os anos dão: certa experiência. Sou um ancião e sempre serei um ancião. Uma vez ao ano, sou esse avô cujos netos são todos os meninos do planeta que acreditam em mim. Mas como muitos deles já não acreditam em mim, senão em vocês e na generosidade de vocês, quero contar-lhes algo, queridos mamães e papais. Um segredo entre nós. Amanhã, para a Nochebuena, ao redor da árvore de Natal, seus filhos estarão esperando presentes, como sempre, claro. Eles devem aguardar com emoção os misteriosos e multicolores pacotes e bolsas que eu costumo levar, graças às eleições de vocês, nesta simpática relação de cumplicidade que nos une. Esses presentes "de Papai Noel" são brinquedos, roupa, livros... e, hoje em dia, possivelmente não sejam brinquedos qualquer, roupa qualquer, livros qualquer, senão brinquedos eletrônicos, roupa de determinada marca, livros com música incorporada e outros inventos pelo estilo. Está muito bem tudo isto, ainda que minha idade me impede entender tantos avanços tecnológicos e tudo o que vocês e seus meninos consideram que é in. Mas olho, que eu não sou um velho out. Estou ao tanto de tudo. Por isso, o que dá alegria me alegra. A alegria dos meninos é minha alegria. Sua felicidade, a minha. Mas se eu realmente não fosse o que sou -um sonho, uma ilusão, um personagem de conto ou alguém disfarçado-, se eu fosse uma pessoa terrena, deste mundo, seria um velho regordete que passaria os Natais levando em seu simbólico trenó outros presentes. Que presentes? Amor, em primeiro termo. Um amor que se sente no coração, que se presenteia com carícias, gestos, atitudes. Um amor que se esbanja sem pedir nada a mudança: nem boas notas, nem boa conduta, nem uma personalidade conforme com o que vocês querem que seus filhos sejam. Eu repartiria uns pacotes enormes, brilhantes, com grandes laços de cores, bem natalinos, mas cheios desse sentimento primordial, que tira todos os medos e as angústias, que apazigua e compreende a vulnerabilidade dos pequenos e dos já não tão pequenos. Também levaria em meu trenó bolsas com paciência, tolerância, bom humor, disponibilidade, atendimento e cuidados. Todo um desafio para vocês, porque estes meninos hiperativos, que não param de correr, de jogar, que são vivísimos, que manejam computadoras e raciocinam como adultos, são algo difíceis e demandantes. Mas vocês são pais modelo também, e vão poder encontrar essa volta de porca que combine o limite com a liberdade, a maneira eficaz de estabilizar todo esse excesso de energia que caracteriza a seus filhos com os "não" e os "sim", pronunciados no tom adequado. Que mais? Bueno, creio que também poria em meu trenó caixas com bombons que não indigesten, porque esses bombons estariam fatos com ternura e doçura, com proteção e entendimento. Guloseimas que não se dissolvam na boca e desapareçam, senão que eles possam recordar sempre. Atualmente há muitos países onde muitos pais não podem comprar os presentes natalinos que se vendem nos shoppings. Por infortúnio, a Argentina está entre eles. Mas todos, absolutamente todos os pais e as mães de hoje, ricos e pobres, podem presentear neste Natal essas coisas das quais lhes estou falando e que não estão em nenhuma loja, em nenhum vitral. Que não têm preço, porque são invalorables. Que não propõem ofertas nem promos porque a demanda, a simples vista, parece invisível. No entanto, asseguro-lhes que essa demanda está em todos os corações, ávida de receber carinho, beijos e abraços. Amanhã, nessa noite tão especial, desde minha Laponia (que ,em realidade, é uma Laponia virtual, mítica) estarei pensando nestes presentes tão especiais que seus filhos não pedem, mas que esperam de vocês, queridos papais, queridas mamães. Porque, sem sabê-lo, eles os precisam e lhes agradecerão no futuro. Meus cabelos brancos quiçá consigam que estas palavras sejam lidas com certo respeito e que talvez sejam escutadas. Recordo-lhes que vocês, os papais e as mamães, todos vocês, são, em verdade, Papai Noel. Seus presentes são meus presentes. E meu presente principal, o presente que o planeta hoje pede a gritos, desde todos seus reinos, desde as quatro direções, desde os seres humanos em general, grandes e garotos de qualquer raça, credo, nacionalidade, é amor. Depois, se querem e podem agregar-lhe ao presente desse amor uma Barbie, um Homem Arranha ou um celular, tanto melhor. ¡Feliz Natal para todos!

A autora é escritora. Uma mulher secreta e Intimidades do ser são seus livros mais recentes.