LENDA CALCHAQUÍ
Vocabulario: Inti: Sol Mama-Quilla: Lua Pachamama: Mãe Terra Tumiñico: Picaflor
Fonte: http://www.redargentina.com/FaunayFlora/Aves/plumaje.asp
Imágem: Google
Conta-se que em épocas muito remotas já existiam, em nossos campos e bosques, plantas que ostentavam flores de preciosos e variadas cores; fossem estas grandes ou pequenas, de corolas múltiplas ou singelas, de extraordinário perfume ou sem ele. Mas se as flores podiam luzir suas formosas cores, não sucedia o mesmo com nossos pássaros, cujo plumagem era em todos igual: isto é, da cor da terra com que os fizessem o deus Inti, Mama-Quilla e a Pachamama. -Nós -pensaram com toda justiça nossos pássaros- também podemos, como as flores, luzir em nossas plumas essas mesmas cores com que elas chamam o atendimento, fazendo-se admirar tanto. E como era desejo de todos os pássaros poder luzir em seu corpo plumas de bonitos e vivas cores, resolveram reunir-se para pensar no meio de conseguí-lo. ¡Que divina algaravia teve no bosque aquela mañanita à saída do sol!...Mal dissipadas as sombras da noite, deixou-se ouvir entre o ramaje o alvoroço dos passarinhos ao acordar em seus ninhos e a inquieta palestra dos que, em ligeiro vôo, localizavam-se à espera das deliberações.Cantos melodiosos, trinos delicados, agudos apitos, vozes alegres, murmúrios ligeiros, mil rumores e grandes cochicheios enchiam de vida o verde follaje. Os mais madrugadores, como a calandria, o hornero, a cachila, o churrinche e o jilguero, foram os primeiros em abandonar seus ninhos, recomendando a seus pichoncitos muita obediência e cuidado enquanto durasse sua ausência. Milhares de pássaros, cantando todos ao mesmo tempo, chegavam pouco a pouco, e aumentavam o regozijo daquela formosa madrugada, prestando-lhe animação com sua revolotear inquieto sobre as plantas e as flores. Jamais habíase visto reunião mais cheia de alvoroço e alegria. O sol despuntando no oriente, o reflexo de sua luz sobre as folhas ternas das plantas, a frescura da brisa, a fragancia e beleza das flores, o grato albergue à sombra das árvores e a delicada harmonia dos cantos das aves: eis o indescritível quadro daquela notável assembléia de pássaros de nossa terra, que queriam para suas plumas as cores das flores. Cada um dos concorrentes manifestou seu modo de pensar, e as opiniões foram discutidas no maior ordem e com perfeita educação. Alguns desejavam possuir uma só cor em sua plumagem, enquanto outros aspiravam a muitos diferentes; estes ansiavam tons suaves, aqueles os pretendiam muito vivos e brilhantes. -Mas, como conseguiremos dar cor a nossas plumas? -se perguntavam. Em isto consistia o mais importante dos problemas e a maior dificuldade para resolvê-lo. Depois de discutir várias opiniões, alguns propuseram fazer uma viagem ao céu para pedir ao deus Inti a graça de que pintasse suas plumitas com as cores com que tinha pintado as flores. A todos lhes pareceu magnífica a idéia, e bateram suas alitas em sinal de aprovação. Também criaram a forma de manifestar-lhe seu contente, no caso de que lhes concedesse a graça: elevariam em sua honra um hino de gratidão, unindo todos suas mais melodiosos cantos; hino que seria bem mais solene e formoso do que aquele com do que cada um o saudava na alborada de cada novo dia.Sem perda de tempo, começaram a preparar-se para realizar a viagem. Supunham-no longo e perigoso; mas estavam decididos a realizá-lo, com tal de luzir o formoso plumagem com que tanto sonhassem. Reunidos nossos pássaros em bandadas numerosísimas, empreenderam sua viagem numa manhã formosa, pensando regressar antes da entrada do sol. Deixemo-los em viagem, caminho do reino do deus Inti e, enquanto, vejamos por que alguns ficaram na terra, sem voar ao céu em procura de cor para suas plumas. Um deles, nosso laborioso hornerito, ficou construindo seu ninho. Já sabemos que sua plumagem está muito de acordo com sua arte de humilde e sábio construtor. Desde então e hornero orienta sempre seu ninho para o sol. A tacuarita ou ratona não viajou, porque suas pichoncitos eram ainda muito pequenos e estava ensinando-lhes a voar. Desde então só canta quando brilha o sol, e o faz olhando para ele. O pirincho ou pirirí tinha a tarefa de ser útil nuns semeados; e como sempre foi tão carinhoso e bom colega do homem, desde aquela época se o quer mais por bom do que por belo. A calandria teve por missão alegrar a solidão do bosque com seu cantar maravilhoso. E o fez com arte tão extraordinária; pôs em seu canto tanta graça e harmonia, que desde então é o pássaro cantor que não tem rival em toda América. E teve um pequeñito, que por ser tão pequeñito não pôde voar ao céu. Era o tumiñico. Este diminuto passarinho ficou voando, inquieto e ligeiro, sobre as flores do bosque. Parecia uma grácil borboleta visitando as corolas mais bonitas e vistosas. Era tal sua impaciência, esperando o regresso dos pássaros viajantes, que não ficava quietecito nem um instante, nem assentava seus patitas no solo (como agora). Assim andou todo o dia, de flor em flor, voando delicada e sutilmente. Chegou a hora do crepúsculo. Os viajantes não apareciam. E passou também a noite sem que eles regressassem. O alva de um novo dia animou o bosque com o acordar dos pássaros que tinham ficado nele. Cheios de ansiosa curiosidade revoloteaban de ramo em ramo, perguntando-se a causa de semelhante demora. O tumiñico não cessava de voar entre as bonitas flores que tinham suas corolas salpicadas de gotitas de orvalho, que brilhavam à luz do sol com reflexos de pedras preciosas. Que tinha ocorrido lá longe, muito cerca do reino do Deus Inti, para o que se dirigiam contentes e otimistas os pajarillos da selva?... Teriam ofendido aos deuses com sua audácia, e talvez recebido por isso algum castigo?... Voltariam com seus plumitas pintadas?... Ou teriam perecido na longa viagem?...Estas e outras mil perguntas se ouviam entre o sussurro da fronda, em forma de trinos entrecortados e murmúrios confusos.O que tinha ocorrido, não o imaginavam os pajarillos do bosque. Foi algo tão magnífico e sobrenatural; tão digno de louvor e de gratidão, que a recordação daquele fato extraordinário nos chega à memória cada vez que admiramos os bellísimos cores que luzem a maioria de nossos pássaros. Inti, Deus supremo que dominava o ar, a terra e o água, considerando muito justas as aspirações de suas alados hijitos, decidiu que elas se convertessem em realidade. E a realidade foi formosa. Vereis como: -Estas ternas avecillas não poderão chegar a mim-, disse-se Inti. Com o calor de meus raios se queimarão seus alitas e não poderão voar. É preciso que pinte seus plumitas suavemente e com doçura. E daí fez?... Reuniu algumas nuvens que tinha no céu, ordenou-lhes que o ocultassem e que fizessem cair uma copiosa chuva, justamente no lugar por onde viajavam as aves em sua procura.Estas encontraram o refúgio de um bosque para resguardar-se do aguaceiro que tão inesperadamente parecia detê-las em seu valente ascención.Depois Inti fez que as nuvens se apartassem para dar passo a seus formosos raios. ¡E qual não foi a surpresa e a alegria de nossos passarinhos, quando viram aparecer no céu o mais esplêndido arco íris que jamais se tenha visto!...Atraídos pela hermosura de suas divinas cores, todos voaram presurosos e se posaram docemente nele a fim de que lhes desse um pouquinho de beleza para suas deslucidos plumagens. Cada um queria eleger a cor que mais lhe agradava. E assim foi como eles iam de cá para lá, percorrendo o arco íris em tenta do encanto de suas sete cores. O cardeal meteu seu cabecita com copete na faixa vermelha, e com isso ficou muito contente. O dourado se passeou longo momento pela amarela. Por isso seus plumitas são agora desse tom. Ao jilguero também lhe agradou o amarelo e se passeou um ratito por ele, ficando negra sua cabecita, porque a noite chegou e apagou o arco íris. O churrinche se tingiu quase tudo de cor vermelha vivo, e deixou seus alitas escuras como as sombras da noite. Tantas cores elegeu o sietevestidos, percorreu-os tanto em todas direções, que conseguiu para suas plumas todos os que lhe deu o arco íris. Por isso o chamamos também "sietecolores". E bem como estes, todos elegeram livremente a cor de sua plumagem. Depois decidiram regressar. Pela noite voaram sem descansar. Desejavam chegar ao bosque o mais cedo possível, para mostrar a seus colegas a cor de suas plumas como prova da bondade do deus Inti. Por isso, ao amanhecer do dia seguinte, instantes depois de que os pássaros do bosque abandonassem seus ninhos, mostrando-se inquietos e afligidos pela tardança de seus valentes amigos, viu-se algo bem como uma chuva de flores que caía sobre o verde follaje das árvores: eram as bandadas de mil pássaros que traziam em suas plumas os bellísimos cores do arco íris. E outra vez, ¡que divina algaravia a do bosque aquela manhã de primavera!Os recém chegados tratavam de luzir em toda forma suas novos e vistosos plumagens. Enquanto alguns se passeavam coquetones dando saltitos sobre a verde grama, outros despregavam suas alitas com toda graça e donaire, e outros levantavam o copete de suas pintadas cabecitas. Ante tanta beleza, ¡quantos trinos de louvor!; ¡quantos gorjeos de admiração!; ¡quantos gorgoritos de alegria!; ¡quantos murmúrios de assombro!...No barulho e confusão da chegada dos felizes viajantes, pelos revoloteos de todos e os saltos e piruetas dos pichones ante festa tão completa, nenhum tinha advertido que entre eles faltava o picaflor. Onde estava? Por que não compartilhava o regozijo de todos? Por que não coincidia ele também à festa da graça e da cor? Imensa, indescritível foi a surpresa de todos os pássaros instantes depois, quando, em rapidísimo, vivaz, inquieto e incessante vôo, chegou até eles o diminuto tumiñico; o mais pequeñito de todos; ¡o mais lindo entre os lindos! Uma só exclamação saiu de todos os piquitos. -Como tens essas plumas tão brilhantes e preciosas se tu não voaste até o arco íris? Picaflor ouviu esta pergunta e outras muitas que lhe fizeram suas amiguitos do bosque, e não soube responder.V inho em sua ajuda uma flor, que disse: -Tumiñico tem agora as cores do íris, os de nossas pétalas e os das pedras preciosas, porque ama a luz, o mel dos cálices e as gotas de orvalho...Picaflor se olhou no água calma de um arroyito próximo, voou de uma flor a outra, e lançando ao ar seu gritito, disse: -¡Cantemos a Inti o hino prometido! E o coro das mil vozes harmoniosas da selva se elevou até o céu. |
0 CA CHORROS:
Gracias por comentar