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Os EUROPEUS E A CRISE

Palomas
"Para os europeus, a culpa da crise é dos imigrantes"
Os intelectuais / Lorenzo Cachón Rodríguez
Há xenofobia, opina o sociólogo español
Cecilia Diwan Para A NACION
Fonte: http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1100765
Imágen: Google



"Os políticos europeus não o dizem literalmente, mas insinuam que os imigrantes têm a culpa da crise. Então, a gente comum lê nos discursos políticos que há desemprego porque há muita imigração e assim se converte aos estrangeiros que residem aqui em bodes expiatórios da crise econômica."
O que o afirma é o espanhol Lorenzo Cachón Rodríguez, doutor em sociologia e especialista em imigração da Universidade Complutense de Madri.

Cachón Rodríguez conta que o panorama é conflitivo. "Proliferam os protestos e as greves, como as que teve semanas atrás no Reino Unido para recusar a contratação de trabalhadores de outros países da União Européia. Também os confrontos sociais, como em Espanha, contra os trabalhadores extracomunitarios, aos que se lhes pede que voltem a seus países depois de ter requerido sua força de trabalho durante mais de uma década", diz.

Num extenso diálogo telefônico com A NACION, Cachón Rodríguez sustenta que é necessário opor-se "ativamente" aos discursos xenófobos. "A realidade é que há desemprego porque há uma crise econômica. Espanha tinha uma indústria da construção absolutamente sobredimensionada e isto não se ocasionou porque tivesse muitos imigrantes...
"A recessão econômica que está vivendo Europa afeta aos imigrantes econômica e socialmente "de modo muito duro", diz o sociólogo. Pela primeira vez desde 1994, o desemprego aumentou em toda Europa. "Muitos imigrantes que chegaram a Espanha desde 2000 com vontade de assentar-se e de integrar-se se hipotecaram fortemente para comprar uma moradia e agora muitos não vão poder enfrentar essas hipotecas."

Assessor e pesquisador da Organização Internacional do Trabalho e a União Européia em assuntos relacionados com a migração, Cachón Rodríguez procura soluções ao racismo e a exclusão que vivem os estrangeiros em Espanha desde a presidência do Foro para a Integração dos Imigrantes.

-Crê que os discursos políticos que criminalizan ao imigrante são os responsáveis da onda de xenofobia e o racismo que cresce em Europa?
-Sim, eu sou dessa opinião. Há discursos de frações de extrema direita que são diretamente xenófobos. Depois, há discursos que em si mesmos podem não ser qualificados de racistas, mas que são percebidos, lidos e escutados pela opinião pública de tal maneira que semeiam realmente a xenofobia. É na ambigüidade onde se semeiam estas posições discriminatórias.

-Por que essa ambigüidade? Os políticos em Europa têm medo de falar francamente sobre gestão migratória?
-Em Europa, há temor de falar da imigração, porque, eleitoralmente, o tema não vende bem. Por exemplo, no primeiro debate da última campanha presidencial de Espanha, o candidato opositor Mariano Rajoy lhe perguntou a José Luís Rodríguez Zapatero por que quando chegou ao poder tinha no país só um milhão de imigrantes legais e agora tinha três milhões. O presidente não foi capaz de responder a isto; ficou calado. No entanto, a resposta que lhe tinha que dar era estupenda: "Vê o bem que o fizemos? Temos mais recursos para segurança social".

-A imigração, como fenômeno social, é mais positiva para uns do que para outros?
-Para um coletivo social, a imigração não é concorrência, mas para os setores europeus mais precisados, sim o é. Se há 200 bolsas escolares num povo, porque há 200 meninos que as precisam, até aí tudo funciona muito bem. Mas se chega mais gente que requer bolsas e a resposta das instituições não é aumentá-las, alguns que tinham bolsas vão ficar sem elas. Então, terá gente que diga que isto ocorre porque chegam imigrantes. Claro, ocorre porque há imigrantes, mas a culpa não a têm eles, que pagam seus impostos, senão as instituições, que não deram uma resposta a esta nova situação.

-A União Européia endureceu sua política imigratória com o telefonema Diretivo da Volta. Crê que a crise vai levar a fechar ainda mais as fronteiras?
-É difícil endurecer ainda mais as políticas européias. Não creio que a crise vá ter muita incidência, mas sim vai ter incidência na opinião pública, porque agora pode ter discursos que culpabilicen ao imigrante.

-Uma das primeiras medidas que tomou a UE quando se desatou a crise foi aprovar o chamado Pacto pela Imigração e o Asilo, que consagra o princípio da seleção dos imigrantes. Não crê que a medida seja discriminatória?
-Não, creio que os países de recepção devem organizar a migração em termos das necessidades de trabalho. Mas não podemos consertar só em nossas necessidades de trabalho. Por exemplo, em Europa há muita necessidade no sistema sanitário. No entanto, como vamos trazer médicos de Bolívia ou da Argentina, que os precisam tanto ou mais do que nós?

-Zygmunt Bauman, em seu livro O arquipélago de exceções, diz que as normas de seleção da União Européia estão baseadas em critérios econômicos e que estes convertem em seletivos os direitos sociais e os direitos humanos.
-Não compartilharia do todo esta crítica. Eu aceito que tenha uma seleção econômica e que se possa gerir bem em termos democráticos se, e só se, os imigrantes têm todos os direitos civis, sociais, econômicos e culturais, idênticos aos autóctones.

-O crescimento sustentado que teve Europa nos últimos anos tivesse sido possível sem a mão de obra estrangeira?
-Na imensa maioria, a imigração teve um efeito positivo e muito importante sobre o crescimento econômico e o bem-estar da sociedade européia. É curioso: em meados de 2007 os dados da desocupação de Espanha foram os mais baixos da história, por embaixo do 8 por cento, e isso foi no máximo momento de impacto da migração. Ou seja: nunca teve tão poucos espanhóis desempregados como quando teve tantísimos estrangeiros trabalhando aqui.

-Falta, então, uma adaptação da sociedade e das instituições ao fenômeno migratório e à multiculturalidad?
-Sim, mas eu começaria pelas instituições, que são as que têm o grande desafio de adaptar-se à realidade, e continuaria com os políticos e seus discursos. Se eles cumprem esta função, tudo se desenvolverá melhor. A sociedade se adaptou bastante bem. Em Espanha se estão integrando os imigrantes de um modo aceitável e razoável. Passamos nos últimos 8 anos de ter meio milhão de imigrantes a ter, agora, cerca de 5 milhões de estrangeiros vivendo em Espanha. Isto representa o 11 por cento da população do país.

LORENZO CACHON RODRIGUEZ
Sociólogo espanhol
Idade: 60 anos.
Nasceu em: Villaquejida, província de León, o 19 de outubro de 1948 .
Livros: Prevenir o racismo no trabalho, Jovens imigrantes em Espanha.
Professor: na Universidade Complutense de Madri.
Frases: sua preferida é uma citação do prêmio Nóbel Coetzee: "Nestes tempos de vergonha que nos tocaram viver, temos que levantar a voz, temos que falar..."

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