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Os QUINZE ANOS DE UMA NENA PURA CORAGEM

Palomas

Fabiana Vega nasceu cega, surda e sem possibilidades de caminhar, mas não se rende e suma progressos dia a dia. Os vizinhos de Unquillo, onde vive, organizaram-lhe a festa de aniversário num castelo.
Por: Marta Platía


Filha da mãe Natureza, quando na natureza teve mau tempo, Fabiana Vega festejou seus 15 anos. Seu corpo se gestó enquanto uma rubéola congênita lhe açoitava as células: os olhos baixaram as persianas ainda antes de abrí-las, e os ouvidos deixaram de escutar os sones de mar do ventre materno. Uma mamãe que não pôde com a tempestade, e se a entregou a Isabel Salussolia, a avó, para que se fizesse cargo do bebê que jamais caminharia.

Desde esse 27 de julho de 1994, quando sentiu o frio de um mundo que nunca verá nem ouvirá, a vida de Fabiana é um naufrágio constante onde só há um madero do que aferrarse: o corpo maciço de "A Gringa", como a chamam todos em Vila Forchieri: uma barriada obreira e polvorenta de Unquillo, a 35 quilômetros da capital cordobesa.

Uma mulher que amassa pão e o vende, casa por casa, quando o magro subsídio estadual lhe permite comprar farinha e lenha para acender o forno de barro da casita que alugam, e cujo dono ameaça agora com aumento ou desalojo. Antes da festa de ontem, a pediatra Graciela Aymar regressou no tempo: "Quando as vi pela primeira vez, disse-lhe à avó que a rubéola provocou microcefalia, paralisia cerebral, malformações, cegueira e surdez. Que Fabiana não tinha chances de nada. Seria um vegetal numa cama. Caminhar era impossível. E agora, quando as vejo, não posso mais que me emocionar pelos progressos. Com seu amor, a avó conseguiu que Fabiana se comunique através do tato e se pare sobre suas pernas".

Aymar segue e relata o que muitos em Unquillo sabem: que a falta de cochecito, a avó sentava à neta numa gaveta de maçãs que aferraba a sua cintura com uma corda. E que assim, atirando com seu corpo, levava-a consigo cantando-lhe e falando-lhe, dia depois de dia. Conta como os vizinhos viram à mulher, durante anos, carregando a seu nena rumo a uma escola para garotos descapacitados: "Primeiro como a um monito nas costas; e depois em braços, quando a Fabi foi crescendo e lhe sobravam as pernas por todos lados". As imagens abundam: a Gringa, fazendo rifas para conseguir aparelhos auditivos que, sonhava, lhe dariam de ouvir à neta. Mudando pães por bilhetes de micros. Fazendo filas intermináveis com números sacados de madrugada em repartições públicas. E a sempre fugaz aparição de uma mãe biológica que vai e vem segundo a maré de sua própria vida.

Na escola Sullai -esperança em mapuche- onde assiste, Aurea María Sosa detalhou que "se for o caso, os lucros essenciais são comer só, controlar esfínteres e aprender a linguagem com mãos, já que tato e olfato são suas únicas janelas ao mundo".

Por isso os bonecos de pelúcia de presente no festejo dos 15, no castelo que prestou a comuna. Um edifício tão imponente por fora como esvaziamento por dentro, que conheceu tempos fastuosos, e agora parece um refém no meio da pobreza do bairro. Ao meio dia, mais de uma centena de vizinhos chegaram com seus pratos e pagaram 10 pesos o cartão. Sabiam que a Gringa, a quem sempre lhe desejam "que não se morra nunca", preparou empadas, e até lhe comprou a Fabiana um buzo rosa. Não teve vestido. Só amor para a filha da mãe Natureza.

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