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A CIÊNCIA TAMBÉM EXPLICA COMO SER FELIZ

Palomas
O altruísmo e dormir mais estão entre as principais causas
Monica Salomone
Diário O País MADRI
Lámina: Richard Henson



Se é você um cético que não acredita em fórmulas mágicas para a felicidade, se a crise o deixa sem dinheiro para presentes, mas com tempo para dedicar a outros, se entre seus objetivos para 2009 está o conseguir um ansiado bem material... o que segue poderia interessar-lhe. Resulta que a busca da felicidade, do sentimento de satisfação pessoal, já não é coisa de gurus que dão conselhos, senão que entrou de cheio no âmbito das ciências. E alguns de seus achados são surpreendentes.
Mostram, por exemplo, que há mais felicidade no altruísmo que no hedonismo, e em dormir mais cada dia que em comprar-se um carro novo.
Também se sabe que cada um de nós tem uma felicidade basal, dependente dos próprios genes mas não por isso marcada a fogo: é possível manipulá-la... sempre que se descubram os comandos corretos.
O bonito do assunto é que entre quem dissecam a felicidade para procurar seus ingredientes há economistas, sociólogos ou psicólogos que publicam seus trabalhos nas revistas científicas de maior impacto internacional. Sim, há uma busca científica da felicidade.
Desde 2006 até agora, a felicidade protagonizou mais de 27.300 artigos científicos. Agora há um Journal of Happiness Studies (Revista de estudos sobre a felicidade) incluído no sistema de citações científicas, e uma World Database of Happiness, ou base de dados mundial, que recopila informação ao respecto.
A onda contagiou, além da as editoriais -veja-se a proliferação de obras alusivas, como Emoções positivas , do psicólogo Enrique G. Fernández Abascal-, a áreas contíguas, como a economia.

PROJETO HAPPINESS
A União Européia acaba de financiar o projeto Happiness, uma investigação que durará três anos e analisará como influem as condições ambientais -desde o clima e a poluição até a disponibilidade de serviços educativos ou de saúde- no bem-estar subjetivo, um dos sinônimos técnicos de felicidade dos europeus.
A diretora do projeto, Susana Ferreira, do University College em Dublin, espera que os resultados sejam úteis para a tomada de decisões "da classe política e para o público em general". Ferreira e o resto dos pesquisadores são economistas. Mas não são os únicos neste campo. Em economia é importante saber por que a gente toma as decisões que toma, e essa pergunta guiou a Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia de 2002, até a felicidade.

O guiou, em concreto, à seguinte questão crucial: se a felicidade é o motor do comportamento humano, terá que saber como medí-la. "As declarações diretas de bem-estar subjetivo poderiam ser úteis à hora de medir as preferências do consumidor... se isto pudesse fazer-se de modo credível", escrevia Kahneman em 2006. E no mesmo parágrafo assinalava como em economia se dá o mesmo boom pró felicidade que em psicologia: entre 2001 e 2005 se publicaram mais de 100 trabalhos sobre economia e felicidade, comparados com só quatro entre 1991 e 1995 .
Por conseguinte, como se mede a felicidade? Uma primeira resposta parece óbvia: perguntando aos principais interessados. As prestigiosas enquetes do European Social Survey (ESS), que se fazem desde 2001, incluem a pergunta: "Como é você de feliz?". Há outras enquetes similares: o Eurobarómetro e seus equivalentes em outros continentes, ou o World Avalies Survey (WVS), com dados a mais de 50 países desde princípios dos oitenta.
Os resultados destas enquetes pintam a grosso modo o seguinte panorama. Nos países ricos se é mais feliz do que nos pobres. Bem. Mas superado um nível mínimo de riqueza, dinheiro e felicidade se desacoplan: ainda que a capacidade aquisitiva se multiplique, o sentimento de bem-estar mal varia.
O paradoxo já a assinalou nos anos setenta o economista Richard Easterlin, e se corrobora ao longo dos anos. Fernández Abascal o expressou assim: "Meus filhos têm todas as videoconsolas e não são mais felizes do que era meu pai, que jogava com uma corda e uma caixa de papelão na rua: tinham menos médios, mas os níveis de felicidade eram parecidos".
As enquetes do WVS também mostram que o nível de felicidade se mantém mais ou menos estável ao longo dos anos, bem como as diferenças entre países. Nos países nórdicos e em América latina se declaram mais felizes do que em Ásia. No entanto, depois dos últimos dados, do passado julho, Rum Inglehart, o responsável do WVS, chamou o atendimento sobre o fato de que desde 1981 a felicidade parece ter aumentado em 45 dos 52 países estudados.
Inglehart e outros autores o atribuem à melhor qualidade de vida em países que começam a sair da pobreza e à extensão da democracia, pretensamente associada a mais liberdade pessoal. Mas, em qualquer caso, a foto que proporcionam as grandes enquetes é para muitos demasiado imprecisa, assim que tratam de afinar com investigações mais precisas, a menor escala. Algumas dão resultados sobre idade e sexo.
Em general, há coincidência em que são mais felizes os jovens e os aposentados. Um recente estudo do Instituto Nacional de Estatística francês (Insee), com enquetes realizadas depois de 1975, revela que, depois de um abaixamento em torno dos quarenta anos, a felicidade "remonta e atinge seu apogeu durante os sessenta", independentemente do estado civil ou o nível de renda.
E o passado julho investigadores estadounidenses -Easterlin, entre eles- analisaram décadas de dados antes de concluir que de jovens as mulheres se declaram mais felizes, mas para os 48 anos as coisas mudam e são eles quem se sentem mais satisfeitos com suas vidas.

A ARGENTINA NO RANKING DO BEM-ESTAR
Em seu último relatório, a World Avalies Survey (WVS) coloca à Argentina dentro do grupo de países nos que claramente se observou um aumento do nível de felicidade. Assim, nosso país compartilha uma mesma tendência positiva com outras nações, como a Índia, Irlanda, México, Porto Rico, Coréia do Sul ou Dinamarca. No ranking de bem-estar subjetivo (que a WVS elabora a partir de uma equação que põe em jogo a felicidade e o nível de satisfação com a vida), a Argentina se localiza no posto número 32, muito por envelope a média das 97 nações avaliadas.

O ALTRUÍSMO, GRANDE FONTE DE SATISFAÇÃO
Estudos mostram que investir dinheiro em outros faz mais feliz que o gastar num mesmo
Em general, os estudos mostram que a felicidade se correlaciona com "benefícios tangívels em muitos âmbitos da vida", escreveu Sonja Lyubomirsky, da Universidade de Stanford. Mais probabilidades de estar casado e menos de divorciar-se; mais amigos e maior suporte social; mais criatividade e produtividade num trabalho a mais qualidade e bem pago; mais atividade e energia vital; melhor saúde mental e física; capacidade de autocontrole, e inclusive mais longevidade.
Ademais, "a gente feliz não é egoísta; a literatura sugere que tendem a ser mais cooperativos, caritativos e centrados nos demais", diz Lyubomirsky. Mas isto não basta para sacar conclusões sobre a fórmula do bem-estar vital, para começar porque não é possível saber se se está mais feliz por estar casado ou ao inverso. Isto é, faz defeituosa dissecar à felicidade mais e melhor no laboratório.
Os pesquisadores o estão fazendo, com resultados curiosos. Vários trabalhos sugerem que a felicidade que os indivíduos declaram quando se lhes pergunta como se sentem é muito influenciable por fatores intransponíveis, como a formulação das perguntas ou o que se acabe de ter uma experiência boa ou má.
Assim, Kahneman pede aos sujeitos que atribuam um grau de felicidade a cada uma de suas ações diárias, revivendo-as, e não só dando um valor global. Com este método realizou e publicou em Science um trabalho com quase um milhar de mulheres que declaravam cuán satisfatórias eram suas atividades: o sexo e sair com amigos e relaxar-se ante a tv figuravam muito alto na lista, enquanto dormir pouco e uma agenda trabalhista muito apertada eram o mais desagradável.
De novo, família e amigos se revelam importantes, mas não o dinheiro (talher o básico). E este não é o único resultado antiintuitivo. E este não é o único resultado antiintuitivo. Há mais, como que pacientes operados de câncer possam sentir-se mais felizes do que pessoas sãs; que vítimas de acidentes muito graves declarem níveis altos de felicidade, ou que pessoas que ganharam a loteria não sejam, pouco depois do susto, mais felizes do que o comum dos mortais.

NOS GENES
A explicação poderia estar nos genes. Vários estudos com gêmeos indicam que há uma espécie de nível permanente e pessoal de felicidade, ao que passado um tempo todo mundo tende a voltar passe o que passe, ou quase. Um trabalho com 4000 casais de gêmeos sugeriu que o sentimento de bem-estar com a própria vida é genético em ao menos um 50 por cento.
Outro resultado antiintuitivo: gera mais felicidade gastar dinheiro nos demais que num mesmo. Demonstrou-o um trabalho de Elizabeth W. Dunn, da Universidade British Colúmbia, no que se dava dinheiro a voluntários, se lhes instría sobre como gastá-lo e se media depois seu grau de satisfação pessoal.
Este resultado coincide com outros em que a maior felicidade se correlaciona com ações de ajuda aos demais. O altruísmo, concluem os pesquisadores, põe sobre a pista da felicidade bem mais do que a busca do prazer.
Mas se o dinheiro não dá a felicidade e o prazer pessoal também não, por que a sociedade atual parece concentrar-se nesses fatores? Há um desfoque generalizado? A causa poderia ser um fenômeno ilusório que Kahneman descreveu, em Science e outras publicações, em 2006. "Quando a gente considera o impacto de um único fator em seu bem-estar -como os rendimentos, mas não unicamente-, é propensa a exagerar sua importância; chamamos a esta tendência ilusão de foco. Esta ilusão pode ser fonte de erros na tomada de decisões importantes", escreveu este experiente.
Este fenômeno também não ajuda a estimar a felicidade dos demais. "A todo mundo o surpreende o felizes que podem ser os parapléjicos", disse Kahneman. "A razão é que não são parapléjicos o tempo todo. Desfrutam de suas comidas, de seus amigos. Lêem as notícias. Tem que ver com onde se põe o atendimento."
Todos estes experimentos têm um objetivo final: ajudar a melhorar o grau de felicidade pessoal. Não é uma utopia, dizem os pesquisadores. Os genes, afinal de contas, deixam um 50% de espaço à autoexperimentación. Pode-se começar por estes Natais: pedir menos aos Reis e ser, em mudança, mais generoso...

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