Depois de escolas de dupla jornada, em muitos lares os garotos são exigidos a continuar com atividades. Cuidado: o excesso pode adoecê-los
Por Lic. GISELA HOLC (Psicóloga)
Imágen: EVA MASTROGIULIO
Muitos garotos -geralmente, de famílias de classe média e alta- amanhecem às 7 da manhã e pouco depois ingressam à escola, onde permanecem até as 16 ou 17 horas, em que termina sua dupla jornada. Costumam ser colégios bilingues, com atividades desportivas e artísticas, além das matérias obrigatórias. O plano educativo se complejizó em tanto o mundo trabalhista exigiu perfis mais completos: inglês, computação, natação. A lista é extensíssima. Mas parecesse que isto não atinge. Ao sair da escola os garotos começam a transitar sua terceiro jornada do dia: futebol, hóquei, circo, dança, comédia musical, viola, maestra particular, ortodontia, fonoaudióloga, psicóloga e psicopedagoga... só algumas das atividades extras. Voltam a sua casa às 20 horas para banhar-se, fazer a tarefa, comer e acostarse, porque ao outro dia o rally continua. Assim vai passando o dia: de obrigação em obrigação, de compromisso em compromisso. O fim de semana há que ir ao partido de tênis, ao treinamento de futebol, à mostra de circo, ao teatro. Os pais, com a melhor intenção, procuram encher a vida do filho com atividades que melhor os prepare para a vida adulta, para render melhor, e o que deveria ser um espaço de prazer e de diversão se converte num dever. Muitos pais dizem que preferem que seus filhos façam coisas porque não lhes agrada que fiquem horas olhando a TV ou frente ao computador, mas estes garotos não param. Estão muito estimulados (hiperestimulados) e são lançados para a ação: parecesse que o importante na vida é fazer, sem ter em conta que queremos ou nos faz falta. John Rosemond, psicólogo estadounidense, descreveu este fenômeno como o "síndrome das famílias frenéticas". São famílias caracterizadas por um alto nível de tensão, que correm de uma atividade à outra e não se permitem espaços para relaxar-se, para não ter nada que fazer. Nessas famílias os adultos têm agendas apertadas que somam atividades trabalhistas, cursos e eventos sociais. Carecem de momentos para dialogar com os filhos e lhes inculcam os mesmos valores, sem percatarse de que sustentam algumas crenças disfuncionales, por exemplo, que "relaxar-se é sinônimo de vagância" ou que "não fazer nada é mau", algo que dificulta identificar e manejar suas emoções. É importante recordar que os meninos aprendem mais do que lhes mostramos "fazendo", que do que lhes "dizemos". Os pais de hoje, e portanto seus filhos, não vêem bem o tempo de lazer, de verdadeiro lazer: olhar TV, jogar com amigos, ler, não fazer nada, simplesmente estar em casa com mamãe e esperar a que chegue papai, caminhar pelo bairro, ir tomar um sorvete. Isto é vivido como chatisse. As gerações atuais não suportam o lazer porque o vivem como esvaziamento e quase como depressão. Precisam das estruturas externas para ordenar suas vidas, e perdem de vista as estruturas ou necessidades internas. Há cada vez mais garotos e adolescentes estresados, com sintomas como medos, preocupações, necessidade de aferrarse a um adulto e sentir-se incapaz de perdê-lo de vista, agastamentos, regressões a comportamentos infantis, pranto ou lloriqueo, dificuldade para controlar as emoções, comportamento agressivo, caprichos, dificuldade para relacionar-se com os outros, moléstias estomacais, pesadelos, problemas para dormir, dor de cabeça, enuresis (molhar a cama), mudanças em hábitos alimentarios. É que os garotos, como os adultos, sofrem transtornos de ansiedade. Tanto filhos como pais, envolvidos numa carreira para não se sabe onde, perderam a capacidade de registrar as alertas que indicam a necessidade de parar. Assim, não podem baixar a tempo do rally. Os garotos, como os adultos, estão colapsados, esgotados, pressionados. As famílias precisam reformular-se, regular as exigências e pensar que a infância vem da mão da inocência, a ingenuidade, a espontaneidade. Na infância se criam os alicerces onde se conformará a estrutura do adulto. Dar-lhes uma infância cálida, feliz e descontraída a nossos filhos é dar-lhes a possibilidade de ser felizes. E não só hoje. Também amanhã. |
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